Há dias em que o mundo parece injusto, que os dias parecem vazios, que as tecnologias parecem inúteis. Dias em que nós queremos que elas peguem no nosso cabelo, que digam que ele precisa de hidratar. Dias em que nós queremos segurar naquela mão tão conhecida, com verniz a lascar na ponta. Dias em que nós queremos o colo seguro de uma amiga.
Elas que não têm o colo acolhedor de mãe, nem o peito protector de um namorado, nem o poder de um sapato novo, nem o abdómen tatuado do Adam Levine. Mas elas são um oásis quando a vida parece difícil, um norte quando estamos sem rumo, um cais para onde podemos eternamente voltar. Elas, as únicas que discutem, apontam e julgam sem doer. Elas, que dão cor à vida nos dias cinzentos. Que adoçam o peito quando ele ameaça ficar amargo. Elas. Elas e mais nada."
Marta Ahrum
O colo de uma amiga, das verdadeiras, é das melhores coisas do mundo.
Quando pensares em desistir, por causa do tempo, pergunta-te o que realmente importa na vida: a direcção ou a velocidade. E então começa a olhar para todas as coisas com a curiosidade e a aventura da criança e a sabedoria e a experiência do idoso. Do tempo passado, pega no que te faz melhor, inspira-te no que te faz sorrir, orgulha-te das cicatrizes, colecciona histórias, mas segue em frente. Do presente nasce o recomeço. E o tempo ensina-nos que nunca é tarde demais. Agarra-te na infinidade do agora, torna-te presente de corpo, alma e coração. Faz sempre o teu melhor. Sê sempre o teu melhor. Não dês demasiada importância a um futuro que tu nem sabes se vai chegar. Veste o teu melhor sorriso, confia na força da tua intuição. Arregaça as mangas. Tira o sapato. Deixa o vento bater no rosto. Deixa despentear. E vai. Errar é humano, cair faz parte. Mas só se levanta quem realmente é forte o suficiente para não se deixar levar pela maré. Só se levanta quem não tem medo de cair novamente. Porque, apesar das muralhas que vamos construindo, elas também cedem. E não há mal nenhum nisso. Não tens que ter vergonha. Vergonha têm os que nem sequer as constroem."
É mais importante a saúde do que o dinheiro. Uma pessoa com saúde pode dormir na soleira de uma porta. E um ricalhaço doente pode não ter posição na cama."
Manuel de Oliveira, cineasta português
Partiu como chegou. De forma repentina. Mas durou tanto como muito poucos. E vai perdurar para sempre. Como as poucas pessoas que são grandes.
A manutenção do amor exige um cuidado maior. Qualquer palerma se apaixona, mas é preciso paciência para fazer perdurar uma paixão. O esforço de fazer continuar no tempo coisas que se julgam boas — sejam amores ou tradições, monumentos ou amizades — é o que distingue os seres humanos."
Um neurótico esperançado é como um apaixonado estupidificado: sabe que aquele amor que sente lhe faz mal, lhe faz mesmo muito mal, mas vai mantendo e alimentando o sentimento porque acredita que os poucos momentos bons, cada vez mais raros, vão compensar toda essa dor.
A decadência da amizade entre nós deve-se à instrumentalização que tem vindo a sofrer. Transformou-se numa espécie de maçonaria, uma central de cunhas, palavrinhas, cumplicidades e compadrios. É por isso que as amizades se fazem e desfazem como se fossem laços políticos ou comerciais. Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito. Está tudo doido. Só uma miséria destas obriga a dizer o óbvio: os amigos são as pessoas de que nós gostamos e com quem estamos de vez em quando. Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas. Ou gostar mais delas do que elas de nós. Não interessa. A amizade é um gosto egoísta, ou inevitabilidade, o caminho de um coração em roda-livre. Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objectivo. É impossível lembrarmo-nos de como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter. A glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas nem planos nem ansiedade.
O casamento é só uma palavra: é verdade. Mas também pode ser a vontade de casarmos e ficarmos casados, todos os dias, com a mesma pessoa que amamos.
Cada vez nos casamos mais. As diferenças dela vão cabendo cada vez melhor nas minhas. Cada vez somos, a Maria João e eu, mais livres de sermos como somos, cada um de nós, e de sermos como somos, nós os dois.
Ela torna-se mais ela; eu torno-me mais eu, ela e eu com menos medo que o outro fuja por causa disso. Mas com medo à mesma. E ganância de viver e curiosidade em saber como é que o décimo quinto ano vai ser melhor do que este.