Da desilusão do momento

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E apraz-me dizer algumas coisas:
- Sendo eu funcionária de um hospital público, tenho vergonha. Vergonha de pertencer a um sistema que, tal como o país, está corrupto. Felizmente, o meu serviço é gerido por uma pessoa à altura que não é conivente com estas situações; Se assim não fosse, e por muito que queira trabalhar, não o conseguiria fazer.
- Aquilo que esta reportagem retrata não é de agora; há décadas e décadas que os médicos se fizeram valer da necessidade das pessoas para seu próprio benefício; a maioria dos idosos de agora reformou-se muito cedo por darem "boas prendas" ao seu médico de família. Agora, apesar de ser mais difícil, continua a acontecer, sem que tenham qualquer vergonha ou peso na consciência. O factor "C" continua a ser o mais valioso.
- Assusta-me muito o facto de saber, eu própria que trabalho num hospital, que se alguém da minha família ficar doente, muito provavelmente terei que recorrer ao privado se não quero estar meses e meses com uma angústia crescente por respostas.
- Eu, tendo já tido casos na família que não acabaram da melhor forma e que levaram a muitos momentos de angústia, trabalho TODOS os dias de forma a tentar sempre que a rapidez e a fiabilidade dos resultados sejam um conjunto; com a seriedade exigida, penso sempre que se fosse um familiar meu, quereria os resultados, bons ou maus, o mais rápido possível.
- É vergonhoso que que ainda não se tenha obrigado os profissionais a trabalharem apenas num local de saúde; estar dias seguidos de banco ou a fazer consultas mais de 20h seguidas, entre público e privado, é o maior passo para o erro. E se é verdade que errar é humano, está nas nossas mãos a vida das pessoas, e com essa não se deve NUNCA brincar.
- Enganarem os doentes com medicamentos que não deviam tomar ou realizar procedimentos para lesões que nem existem, é simplesmente vergonhoso. É um balde de água fria para quem, como eu e muitos outros, todos os dias quer o melhor. Para quem dá o seu melhor por cada um.
- Felizmente, ainda há médicos sérios e são esses os primeiros a denunciar estas situações (como se vê na reportagem!). E esses sim, merecem um aplauso. Pela coragem de dar a cara, pelo não ter medo de enfrentar quem, como eles, fez um juramento. Um juramento para salvar vidas.
Não para as despedaçar ainda mais.
E ter este corpo também ajudava!...