Sobre as praxes...
Nesta altura em que já li várias opiniões sobre praxes, inclusive em alguns dos blogs que sigo, percebi que nunca tinha deixado a minha opinião sobre este assunto.
Quando entrei para a faculdade, há 5anos atrás, confesso que também ia receosa, também ia em dúvida se quereria passar por aquilo. Nunca fui pessoa de faltar a aulas, nunca fui de andar a beber a toda a hora, e era essa a ideia que eu tinha de praxes: bebida, faltas e sujidade. Mas como nunca fui de rejeitar nada antes de conhecer, decidi arriscar e ir; se não gostasse, deixava.
E a praxe surpreendeu-me. É verdade, não vou mentir se em algum momento não quis voltar atrás e ir embora. O primeiro dia foi o horror: ter pessoas que nunca tinha visto a berrarem comigo e sempre a dizer "Bicho, olhos no chão!", a tratarem-me como se eu fosse nada. Mas também foi no primeiro dia que conheci as pessoas que dali em diante iriam passar comigo os 4anos de curso; aquelas que a quem teria de me habituar, sendo que estava a mais de 300km de casa, do M, de toda a minha vida.
Posso dizer que foi das melhores semanas da minha vida, apenas suplantada pela semana de "enterro", a última semana em que fui praxada. Não fui obrigada a beber nada que não quisesse, nunca me obrigaram a faltar às aulas, só faltava quem quisesse, tiveram o cuidado de perguntar as alergias de cada um e, a partir daí sim: foi sujeira, muito gritaria, muito rebolar no chão, muitas flexões e abdominais....mas também o incutir pelo defender do curso que havíamos escolhido, o começar a conhecer quem nos rodeava e não só os seus sapatos. O escolher da madrinha (a melhor de sempre!) e o começar a fazer amizades pelo compartilhar das dificuldades. Tudo isso só aconteceu naquela semana de praxes; se a mesma não tivesse existido, não posso dizer que não teria feito amigos, obviamente, mas creio que teria sido mais demorado e mais complicado.
Agora, não concordo com certas praxes, isso também é verdade. Locais em que só é enterrado quem se embebedou em todos os jantares de curso, ou que teve de sair todas as noites até altas horas, isso para mim não é praxe. A praxe é um ato integrativo, que serve para nos iniciar na vida universitária, que nos leva a perceber que há muito para além da nossa vida de secundário; onde brincamos, jogamos (jogos tão parvos que são esses que nos fazem rir em cumplicidade com quem nos rodeia!), gritamos a alto e bom som para defender até ao fim o nosso curso, decoramos as letras de todas as músicas que nos permitirão ganhar toda e qualquer batalha seja com que curso for.
Não sou contra quem não quer passar pela experiência; estão mais do que no seu direito e certamente viverão o mundo académico à sua forma e serão felizes também; mas tenho a certeza que a sua integração nucna será tão fácil.
Isto são praxes..e soube tão bem chegar ao fim do ano, ser enterrada e finalmente pensar: acabou! Mas depois?
Depois, ao ser eu a praxar, senti a saudade. Saudade de ser praxada...Essa vida, que não voltou mais!
